Você já parou para pensar em como a forma como nos comunicamos é um reflexo da nossa identidade e da sociedade em que vivemos? Até mesmo a escolha de uma palavra em vez de outra carrega uma mensagem.
Muitas dessas decisões podem ser inconscientes, mas é importante sair do automático e refletir sobre a nossa linguagem e o que ela representa. Os debates acerca de diversidade e inclusão nos convidam a questionar esses padrões, mudar nossa perspectiva e buscar uma maneira mais empática e inclusiva para nos comunicarmos.
Você já deve ter notado algumas dessas mudanças. Algumas pessoas começam seus discursos falando “boa noite a todos e a todas” ou, ainda, “boa noite a todes”. Esses são exemplos da linguagem inclusiva e neutra, respectivamente.
Neste artigo, você vai entender esses caminhos e por que a evolução da língua é importante para acompanhar as transformações da sociedade.
Qual a diferença entre as linguagens inclusiva e neutra?
A linguagem inclusiva (também chamada de não sexista) é aquela que busca comunicar sem excluir. A ideia é envolver todas as pessoas sem determinar o gênero e sem mudar a ortografia das palavras.
Já a linguagem neutra (não binária) também tem o propósito de incluir todas as pessoas, mas apresenta uma proposta diferente, a de evitar a binaridade entre os gêneros feminino e masculino a partir de mudanças no idioma, como todes, amig@s e amigxs.
Porém, as formas com x e @ esbarram no quesito da acessibilidade, pois os dispositivos de leitura não conseguem identificar essas palavras, prejudicando a comunicação e o entendimento de pessoas com deficiência visual. Deste modo, o uso da letra “e” é o mais indicado para determinar o gênero neutro.
De qualquer forma, podemos dizer que a linguagem neutra também é inclusiva.
Reflexões sobre a nossa língua
A língua portuguesa, assim como outras derivadas do latim, é considerada uma língua binária, já que a maioria dos substantivos, artigos e adjetivos contemplam os dois gêneros: masculino e feminino. Isso significa que mudamos a forma como escrevemos de acordo com o gênero, bonito e bonita, por exemplo. Já no inglês, a tradução é beautiful, sem flexão para o gênero masculino ou feminino.
Porém, a gramática normativa determina que quando quisermos falar de forma genérica ou no plural, devemos usar o gênero masculino. O exemplo: “Os professores da universidade obtiveram nota máxima no exame” pode não abranger a diversidade de professores.
Afinal, como podemos saber se há mulheres ou pessoas não-binárias neste grupo? Muitas pessoas podem não se sentir representadas nessa generalização e esse é um dos argumentos de quem defende as mudanças na linguagem.
Como tornar minha comunicação mais inclusiva?
Estamos tão habituados a seguir determinadas formas “padrões” de nos comunicar, que esquecemos de refletir como nossas escolhas impactam na mensagem. Ao perpetuarmos esses padrões, não nos damos conta de que eles podem não estar representando todas as pessoas que formam nosso público-alvo.
Neste sentido, adotar pequenas alterações estruturais que evitam o uso de gênero e modos de tratamento mais inclusivos já fazem uma grande diferença.
Confira alguns exemplos
Quando queremos evitar a marcação de gênero, podemos utilizar algumas alternativas, como dar preferência a palavras mais genéricas, que representam a coletividade ou, então, termos como: pessoa, quem, alguém, população, grupo etc.
Trocas que promovem a equidade:
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Os diretores ➡️ A diretoria
Como fica isso nas empresas?
Adotar a linguagem inclusiva é um bom começo para as empresas que desejam melhorar a sua comunicação, por outro lado, não se trata somente de troca de palavras, mas sim uma mudança de mentalidade.
Não basta apenas usar “todes”. Para ter coerência e autenticidade, a comunicação inclusiva deve fazer parte de uma política ampla de diversidade com programas e ações práticas. Só assim, a organização será vista com credibilidade.
Evoluir sempre
Como qualquer proposta de mudança, as novas formas de linguagem encontram resistência, porém temos que nos lembrar que a língua é viva e está em constante evolução.
Com o passar do tempo, é comum que novas palavras sejam incorporadas e outras passem por modificações, já que a língua é influenciada pela comunicação verbal e pela necessidade de nomear algo novo que faz parte da realidade.
Vale lembrar que o pronome de tratamento “você”, tão comum atualmente, é uma modificação de “Vossa Mercê” (usada no século 19), que passou a ser “vossemecê” e, depois, “vosmecê”, antes de chegar ao que usamos hoje.
Assim, pensar que língua é imutável é negar a passagem do tempo e as transformações da sociedade. Questionar padrões é essencial e as linguagens neutra e inclusiva surgem como uma maneira de incluir pessoas que não se sentem representadas pela norma culta vigente e, também, como uma forma de reparação ao considerar grupos historicamente marginalizados.
Esse é um assunto que divide opiniões. Porém, diferente do que as pessoas contrárias a essa mudança pensam, esse “novo modelo” não deve ser algo imposto, mas sim uma evolução gradual em que questionamos padrões e passamos a usar de forma consciente uma linguagem menos excludente. Afinal, a forma como escrevemos tem um papel importante na transformação social.
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